By Leo Peifer on 4/15/2007 10:57:00 AM
Cardeais...

Ana Íris ao pé-do-ouvido

A apresentação do Exercício número 1 em fevereiro do ano passado havia deixado um gosto amargo em minha boca. Um sentimento de revés inexorável, uma derrota inconcebível. Falo do – hoje felizmente – superado episódio do desafino. Desde aquele tempo, amaldiçoei Ismália e as rosquinhas Mabel (que ingeri, ingenuamente, antes do show).

Estive entalado até ontem, quando tudo isso foi dizimado pelas inspiradas apresentações do Rosa no último fim de semana. Sabe-se lá como reenfrentei e como despejei durante as apresentações essas frustrações passadas. Alma lavada e alvejada.

Coisa que me recolocou na senda do prazer de entoar a melodia de Renato Motha foi uma inesquecível conversa, na última sexta-feira, que tive à orla da Lagoa com Titane, ou melhor, Ana Íris, em sua feição mais afetiva e materna. Deu-me o braço, conduziu-me por entre as raízes de uma árvore que precede minha própria existência e reescreveu um arquétipo mítico; fez de mim um Narciso bem sucedido em seu pantanoso empreendimento de reflexão. “Este é um lugar de muita força. Ao mesmo tempo em que é hostil, também acolhe”, aconselhava. E me fez um pedido velado: “Quando tenho domínio sobre a música, não canto, deixo a canção passar através de mim”.

Ontem senti demais. A emoção extrapolou a mim. Toda aquela história tão triste enquanto linda, era mais viva que o intérprete. A voz e acordeon transportaram todas as tergiversações implícitas da canção. Senti-me brinquedo de garoto, um estilingue: impulsionava e via a canção voar alto, porquanto restasse a angústia desse instrumento em não poder, ele mesmo, alcançar a altura daquilo que via borboletear do chão.

Resultado disso é que muitas pessoas se dirigiram a mim dizendo que choraram enquanto a canção flanava (algumas até o fizeram enquanto diziam isso). Eu também tive tanta vontade. Mas tive que fitar a lua do mar.
Lutei um bom combate. E dessa vez saí vencedor... Ismália, descanse em paz.


Colaterais...

Forçado acalanto
Reclamaram comigo do horário noturno para a apresentação de domingo. Defendi-me heroicamente: já canto uma música forçando as pessoas a acreditar que aquele pântano ali é um mar, você ainda quer que eu fale da lua ao meio-dia?

A vingança de Drummond
Atire a primeira pedra quem não topou dos pés seus miseráveis dedos, ao cantar Estrela Natal, numa maldita rocha incrustada no chão (nunca fazer uma quinta vocal foi tão fácil). É aquela velha quadrilha: O público amava o Rosa, que amava o Pererê, que amava espinhos e pedras, que não amavam ninguém...

Voa , menino, voa...
O diretor João das Neves instalou balanços no parque para embalar crianças durante a música Estrela Natal. Um transtornado Eduardo disparou contra o diretor: "Ontem você jogou meu sobrinho no chão". Ouviu como resposta que o sobrinho era disléxico.

Activia é para principiantes
Eu havia dito que após apresentar o Exercício número 1, sentia-me como se o mundo tivesse deixado minhas costas. Helaine Queiroz disse que tivera mais dor-de-barriga no ano anterior. O arguto Bruno Muniz, por sua vez, destilou sua escatologia sobre o assunto: "Pois eu me sinto normal, como se tivesse entrado no banheiro e cagado". E ainda teve de ouvir, depois do show, Vânia Silvério perguntar se o intestino dele estava em pleno funcionamento. Um oferecimento da série Porque incomodada ficava a sua avó...

Comments

1 Response to ' '

  1. Cimara Fróis
    http://rosadosventosbh.blogspot.com/2007/04/cardeais_15.html?showComment=1186425000000#c5642999510064418576'> 06 agosto, 2007 15:30

    Léo,
    que bom que agora a Ismália descansa em paz... Como fiquei feliz em ler o que você escreveu... Tomara que você se sinta um estilingue várias e várias vezes... e também nos faça chorar... com música ou palvra... que verdadeiramente fazem de você um instrumento... cheio de beleza.... Te adoro, moço bonito...
    (não tô zuando... ler essa postagem me fez chorar... )