By Larissa Horta on 6/26/2007 09:10:00 AM

Rascunhos de ontem à noite

Inusitadamente, recebi a visita de uma pessoa muito especial neste domingo, que trouxe com ela, de presente para mim, uma flor e um cd. Num turbilhão de pensamentos, emoções e anseios, guardei o presente e fui ensaiar. Meio atordoada, nem dei muita bola pro cd. Muitas coisas rondavam minha cabeça, mas eu devia me concentrar no trabalho corporal daquela tarde.

Tive um momento de angústia, que foi vencido pelo aquecimento vocal ao qual me propus posteriormente. Meu corpo e minha mente foram ocupados por novas emoções, e aí eu já havia esquecido o cd, a flor e a visita.

Passadas duas horas, me submeti a uma experiência nunca antes vivida, apesar de alguns acharem que ela é sempre a mesma. Pude liberar uma energia boa que há tempos vinha guardando aqui dentro. Um novo misto de emoções e euforia tomou conta de mim, roubando-me palavras para descrevê-lo. Era tudo muito mágico, aquelas pessoas de sempre estavam muito mais bonitas, e pareciam compartilhar comigo os meus sentimentos.

Na volta pra casa, vim acompanhada de outra pessoa também muito especial, que completou com felicidade intensa o meu dia. Já deitada para dormir, pensei em tudo que tinha vivido em apenas um dia, mas não achei nenhuma explicação ou razão sensata para aquilo.

No dia seguinte, lembrei-me do cd. Era de uma banda chamada Constantina, na qual eu nunca tinha ouvido falar. O encarte era muito bacana, um dos mais bem bolados que já vi. Coloquei o cd no som e comecei a ouvi-lo lendo o texto de apresentação do cd... À primeira nota que chegou aos meus ouvidos, fui acometida por uma serenidade estranha, acompanhada de uma sensação boa e de mais novas emoções... Fui lendo o texto e vendo que tudo se encaixava, trazendo um sentido que era só meu... Um momento pleno de clareza me absorveu, e fiquei boquiaberta por alguns instantes. Li o texto repetidas vezes, procurando descobrir mais respostas e mais emoções nas entrelinhas do papel...

Ainda aérea com o cd que não acabou e continua tocando, escrevo estas palavras para tentar alcançar em alguém algum sentimento parecido com os meus e completar o sentido disso tudo.

Aí vai o texto do encarte, que conseguiu expressar muita coisa que eu não consigo...


“... pesados como as pedras nos bolsos de Virgina Woolfe, nos perguntamos... ‘por quê?’ Porque ainda tentar com tanto entusiasmo e persistência juvenil algo que parece cada vez mais inalcançável no imenso turbilhão de sonhos e decepções que se tornou nossas vidas? Porque sim, respondemos com a total confiança na espontaneidade da resposta de uma criança impaciente que ainda não se esqueceu de algo tão simples mas ainda assim tão distante... que por aquilo que nos impulsiona a amores tolos não há nenhum outro motivo a não ser a resposta sincera de um coração abarrotado de esperança... e assim esperamos viver só um pouco mais, para podermos finalmente construir algo maior e infinitamente mais belo... treinando para ser chuva, para escorrer, fluir, seguir cada impulso de nossos corações tortuosos encharcados de vida, para finalmente, depois da euforia, desaguarmos em um oceano de tranqüilidade... complexo como um caleidoscópio ou simples como magnólia, nos recusamos a seguir qualquer coisa que não seja puro sentimento... pois só assim será possível expressar tudo o que o momento não diz, tudo aquilo que, sufocado por palavras e abafado por olhares, grita por uma chance de vida sob cada nota que escapa de nossos dedos para finalmente ser livre... uma memória, um cartão postal, um diário ou uma carta manchada de lágrimas, Havana, Santiago ou Santa Rosalia, a marca e a expressão de todos os lugares, reais ou não, que, de alguma forma, tocaram nossos corações... andando de peito aberto pelas cidades invisíveis de Calvino, saltando através de telhados, olhando o mundo de cima e sentido que tudo possui um lugar, que, dada a oportunidade certa, em música e dança tudo tende a encontrar seu ritmo e harmonia própria... mas apenas após experimentar de tudo, cheirar cada aroma e provar cada sabor, poderá dizer, confiante, que ele já atravessou todos os oceanos do mundo e então retorna, vivo, brilhante, trazendo dentro de uma garrafa um pequeno objeto retangular contendo toda a beleza e mistério de um continente inexplorado... se pudéssemos apenas ter a audácia de nos abrir para ele e sentir toda a sua música... (...)”

Para conhecer a banda, acesse o site
http://www.constantina.art.br/ ou http://www.myspace.com/bandaconstantina.

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