By Leo Peifer on 8/06/2007 10:12:00 AM
Nosso nome é Rosa dos Ventos. Prazer. Somos autônomos.

A assembléia de integrantes (em 4 e 5 de agosto) assentiu que o caminho era natural e iminente. Talvez até corroborando com os próprios vislumbres e direcionamentos dos sentimentos da Titane, que já cantava essa pedra há tempos.

Residem, entretanto, confusões do que se entenda por "autonomia". Todos temos visões parciais do que seja, sem conseguir abraçar a totalidade do termo em nossa realidade. Parece-me englobar tanto os conceitos artísticos quanto os administrativos. Titane e João deixam de imprimir unilateralmente seus pareceres estéticos e de gestão e passam a ser colaboradores do processo, assumindo papéis bem mais específicos e centralizados nos quesitos artísticos.
Tais atribuições, inclusive, geram dúvidas sobre como o elenco deve pisar os espetáculos gerados por eles (sobre o material de Pererê e Makely Ka). Como propor adaptações do Exercício número 1 sem descaracterizar os conceitos originalmente utilizados, por exemplo.

Administrativamente, temos uma superprodução superencrencada. As superpoderosas Mariana, Michelle e Zirlene têm tido muito convívio com a criptonita (embora ela teoricamente só afetasse os super-homens). Elas estão no limite das atribuições. Tenho visto e ouvido situações de produção que deixaria qualquer mortal em frangalhos, mas que elas têm trazido, no nado contra a correnteza, nos dentes. O saldo acumulado é frustração - delas - pelo nenhum ou pouco retorno e compromisso que enxergam em seus colegas de trabalho (Elas têm doado dezenas de horas diárias e até o aluguel da casa, e a risível ajuda de custo é, quando a recebem, insuficiente e fica ao bel-prazer das Fundações de Cultura - que depositam mês não e outro também).

Um alívio cogitado às heroínas foi a criação da Produção Interna. Em termos práticos, significaria que cada integrante deveria assumir algum aspecto dessa produção. Café, copo descartável, contato para salas de ensaios, organização de atas, manutenção de conta bancária, entre outros quesitos, irão de retro ao se aproximar delas. Com isso, elas podem se concentrar com integridade nos projetos e contatos que elaboram para futuras apresentações - o que já é muita coisa -, criando a figura da Produção Externa.

Outro parto (em homenagem à Ludmila) é a integração do extinto Vento das Rosas. Quando eu havia escrito que era movediça a areia em que queríamos cultivá-los, pouco se resolveu. Informações desencontradas e descrições imprecisas criaram um certo mal-estar entre grupos que estão em estágios distintos. Sem saber exatamente como agir dentro do grupo, e sem saber de fato como nele atuariam, os ex-integrantes do Vento das Rosas parecem melindrados. O fato é que o Rosa dos Ventos está num estágio de mutação. Lento impreciso (em homenagem a outro Rosa, o Guimarães). Acertados alguns aspectos de nosso funcionamento, já podemos dialogar com calma e direção com os mais recentes integrantes, o que será feito na próxima semana. Toda a situação será exposta e esperamos que eles também expressem seus sentimentos. Até que se acenda a luz, não se pode saber no breu que se pisoteia um altar.

Paulos Coelhos à parte (para esse não há homenagem), como será o processo de criação do grupo? Quando os antigos diretores se afastam desse procedimento, restamos nós todos. Como devemos lidar conosco mesmos? Que importância passam a ter a figura dos monitores - que têm conduzido os trabalhos e ensaios? Haverá um canal criado para que os demais componentes possam propor esquetes ou intervenções? Vamos trabalhar tematicamente ou, como João tem feito - de uma criação acronológica, ilinear e aparentemente desvinculada - apurar pontos comuns e propor narrativas circulares?

Isso me faz recordar um meu incômodo de desde o começo do grupo: se temos identidade, qual seria? Não somos um grupo de congado; não somos uma banda de MPB; menos ainda uma Cia cênica; passamos ao largo da dança e não somos trovadores da metrópole. Ainda assim sobrepomos fragmentos de tudo em nosso mosaico. Seríamos especialistas em generalidades? Não somos nada e damos indícios de tudo. Uma criatura híbrida gerada in vitro. A Cultura modificada geneticamente. A Estética Transgênica. A metáfora da contemporaneidade, ser tudo em superfície, nada profundamente. Nosso fígado, total flex, terá por combustível as ancestrais angústia e incerteza.

Comments

3 Response to ' '

  1. Cimara Fróis
    http://rosadosventosbh.blogspot.com/2007/08/nosso-nome-rosa-dos-ventos.html?showComment=1186423260000#c8268811105850616377'> 06 agosto, 2007 15:01

    Léo,
    seus textos são maravilhosos...
    Pena que a situação no Rosa não esteja tão maravilhosa quanto eles...
    Espero que a luz se faça... e bem rápido... Como você mesmo disse, momentos de transição existem e são fundamentais para o amadurecimento do trabalho...
    Meio de longe, meio de perto... torço pelo (nosso) trabalho de vocês... Tamos aí... Amamos por aí... mutações híbridas e transgênicas dessa cidade metamorfética... Amo vocês... Com saudades... Cimara

     

  2. Zizi Lemos
    http://rosadosventosbh.blogspot.com/2007/08/nosso-nome-rosa-dos-ventos.html?showComment=1186694160000#c4988405812863291125'> 09 agosto, 2007 18:16

    Leonardo Peifer eu sinceramente me sinto muito, muito feliz por conviver ao lado de pessoas como você. Engana-se (e de longe) quem pensa que seu talento é pra cantar, na verdade esse é só mais um dos seus múltiplos (e ouso dizer ainda que essa palavra é pouca para descrever suas habilidades). Parabéns meu amigo e continue sempre sendo essa pessoa iluminada em tantos aspectos. Ao meu ver o Rosa dos Ventos é multi porque relamente tem multiplicidade de personalidades.
    Um grande abraço, com carinho e respito da Zizileide

     

  3. Leo Peifer
    http://rosadosventosbh.blogspot.com/2007/08/nosso-nome-rosa-dos-ventos.html?showComment=1186749120000#c5888385304574546990'> 10 agosto, 2007 09:32

    Putz... Se tem algo que não sei (a bem da verdade, são milhares de coisas)é lidar com elogios. Ainda mais duplos, e sobretudo por terem vindo de quem vieram... Saibam que o sentimento é recíproco. Temos todos muitos talentos. Dos musicais aos de alma e caráter - que para mim ainda detêm muito mais valia que cantar na nota certa. Cimara e Zizi, abraços com a textura que vocês merecem (com toda essa seda rasgada, a cotação dos royalties do tecido disparou).