By Leo Peifer on 3/02/2007 10:02:00 AM
A peiferina versão do repertório

Quando os patos encararam as intermitentes luzes, se assanharam a pensar que fosse uma balada. Provavelmente porque as de outrora águas de Narciso daquela Lagoa nada refletiam senão os costumeiros reclames policiais. Quase carnaval, uma grande serpentina de isolamento impedia os excessos momescos por sobre o corpo que acariciava, embora inerte e frígida, a não menos tépida terra.

E foi esta mesma palavra que a única testemunha dissera antes de conceder seus tons aos carcereiros da afonia: “Foi o solo”. Bastou isso para que amostras e amostras daquela terra fossem periciadas à exaustão, quase desassoreando a Lagoa. Nada encontrado.
— Chmalha. – balbuciou o soldado Carioca o nome na cédula de identidade, como se estivesse no Roletrando.— Sobrenome? – inquiriu o delegado, tentando disfarçar a impaciência e equânime ignorância.— Não tem. E como se fosse a Cher ou o Boni. – redargüiu o lépido soldado.

Dos moradores da região, souberam ser Ismália moça de comedidos recatos. Era benfeitora como a Geni e realizava tradicionais festas introspectivas e familiares em sua torre. “Só rolava cachaça, putaria e ecstasy. Nélson Rodrigues ficaria ruborizado”, revelou um POPNI (popular não-identificado). Em seu quarto, engenhosamente localizado na cobertura de sua torre duplex no bairro Itapoã, foram encontrados fotos e um boneco de Aphonsus de Guimaraens espetado.

Na última vez em que fora vista, arremessava de sua torre garrafas – vazias, naturalmente – em outro ébrio que lhe fazia descompensada seresta, entoando uma música que levava seu nome. Caetano Veloso mais uma vez negou que tivesse feito letra e música.

Haveria indícios suficientes de “matrimônio fúnebre contraído ao etanol”, nome polido com que o delegado preencheria o inquérito para denominar a cachaçada no melão da mulher, caso não soubesse que a canabrava já singrava para o passo dois da cartilha dos Alcoólicos Anônimos.

Incapazes de solucionar a morte e de dar descarga e baixar a tampa da latrina após o uso, os policiais arquivaram o caso abaixo do monitor do computador – por questões ergonômicas.

Sob a golfada derradeira da etílica decompositora, florescia, alquebrada, uma rosa.

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