O corpo fala...
...Embora o meu pareça silenciar-se. No retorno às atividades do grupo, antigos paradigmas: fazer o corpo compreender sem o domínio déspota da consciência. A muito custo assimilei essa premissa, de que o corpo é capaz de traduzir em sua linguagem peculiar os desígnios intelectuais.
Tente transpor em um movimento corporal os versos "Amor tecido suave / Na cambraia de fibras leves / Mortalha de sons graves / Textura de pele onde mãos de pinça / Finas tranças flanam pelos ares" (Makely ka que me perdoe pelo desarranjo visceral de sua obra). Então? Aposto como o máximo que você conseguiu foi um franzir de testa... Reside aí a minha (quiçá a nossa) dificuldade.
Titane parece ter matado a charada de tanta imobilidade - para não dizer insensibilidade - dos corpos de hoje. Disse ela que desde que o modo dominante de viver rebaixou para secundárias as informações sensoriais e delegou à mente a exclusividade das deliberações da vida (possivelmente iniciadas na Europa do Iluminismo), os corpos parecem ter desaprendido progressivamente a se expressar. As técnicas e tecnologias tendiam a livrar as pessoas do suplício dos trabalhos corporais e privilegiavam as arquiteturas dos pensamentos, quer se manifestassem na ciência (com o afastamento da metafísica das religiões), quer na cultura (com a decadência de vertentes muito sentimentais como o romance - para deter-me à literatura).
Presenciamos o ápice desse viés "científico" de lidar com nossas experiências, a partir do qual o intelecto deve sempre prevalecer aos sentimentos ou questões não devassadas pelo crivo mental. Não obstante ao fato de que a mente mantém seu domínio em nossas ações, o corpo parece bradar pelo fim de seu cárcere (talvez isso explique inclusive alguns comportamentos sentimentais contemporâneos, tentando compensar essa prisão inexorável).
Titane conjecturou que, não por acaso, parece ter havido um resgate de padrões ancestrais (afirmado em relação à música, extensivo a outras esferas da arte e do viver), que fervilham de sensações.
Enquanto essas revoluções são traçadas, continuo a escrever meu épico interno, com alternância de vitórias entre os dois frontes de batalha. Às vezes, quando percebo o corpo largado ao bel-prazer da música e da dança, arregla-se um pós-moderno sentimento de culpa. Nesse instante, meu corpo se cala. É a trégua possível no entrebatalhas.
...Embora o meu pareça silenciar-se. No retorno às atividades do grupo, antigos paradigmas: fazer o corpo compreender sem o domínio déspota da consciência. A muito custo assimilei essa premissa, de que o corpo é capaz de traduzir em sua linguagem peculiar os desígnios intelectuais.
Tente transpor em um movimento corporal os versos "Amor tecido suave / Na cambraia de fibras leves / Mortalha de sons graves / Textura de pele onde mãos de pinça / Finas tranças flanam pelos ares" (Makely ka que me perdoe pelo desarranjo visceral de sua obra). Então? Aposto como o máximo que você conseguiu foi um franzir de testa... Reside aí a minha (quiçá a nossa) dificuldade.
Titane parece ter matado a charada de tanta imobilidade - para não dizer insensibilidade - dos corpos de hoje. Disse ela que desde que o modo dominante de viver rebaixou para secundárias as informações sensoriais e delegou à mente a exclusividade das deliberações da vida (possivelmente iniciadas na Europa do Iluminismo), os corpos parecem ter desaprendido progressivamente a se expressar. As técnicas e tecnologias tendiam a livrar as pessoas do suplício dos trabalhos corporais e privilegiavam as arquiteturas dos pensamentos, quer se manifestassem na ciência (com o afastamento da metafísica das religiões), quer na cultura (com a decadência de vertentes muito sentimentais como o romance - para deter-me à literatura).
Presenciamos o ápice desse viés "científico" de lidar com nossas experiências, a partir do qual o intelecto deve sempre prevalecer aos sentimentos ou questões não devassadas pelo crivo mental. Não obstante ao fato de que a mente mantém seu domínio em nossas ações, o corpo parece bradar pelo fim de seu cárcere (talvez isso explique inclusive alguns comportamentos sentimentais contemporâneos, tentando compensar essa prisão inexorável).
Titane conjecturou que, não por acaso, parece ter havido um resgate de padrões ancestrais (afirmado em relação à música, extensivo a outras esferas da arte e do viver), que fervilham de sensações.
Enquanto essas revoluções são traçadas, continuo a escrever meu épico interno, com alternância de vitórias entre os dois frontes de batalha. Às vezes, quando percebo o corpo largado ao bel-prazer da música e da dança, arregla-se um pós-moderno sentimento de culpa. Nesse instante, meu corpo se cala. É a trégua possível no entrebatalhas.
Comments
0 Response to ' '