Aflições. Foram muitas naquela viagem a Uberlândia. Não falo do grupo, falo de mim. Era muita novidade, mas tinha tudo pra dar certo; e deu.
Apesar de ter sido nossa primeira viagem sozinhos, sem Titane, Pererê ou João, arrisco dizer, sem titubear, que foi a melhor delas – diante da nossa imensa lista de cidades visitadas! Foi tudo tão bem pensado e esquematizado pela brilhante produção do Rosa, que nem houve espaço para reclamações e as ladainhas de sempre.
Naturalmente, havia apreensão no ar pelo fato de estarmos competindo, algo que nunca havíamos feito antes. Todavia, ensaiamos arduamente durante semanas; andei até sonhando com os movimentos de "A outra cidade" e todo o restante da nossa performance nas vésperas da viagem, e não foi só uma vez. Acordava cansada, de tanta concentração durante a noite. Juro.
Acho que criei tanta expectativa por essa viagem e pelo nosso sucesso na apresentação, que acabei estragando tudo. Senti um peso enorme em nosso aquecimento vocal; para mim era nítido o clima carregado e a tensão estampada no rosto de muitos... Posso ter fantasiado. Quem sabe a tensão não era toda minha?...
Minha inquietude e o nervosismo fizeram eu me sentir péssima naqueles momentos pré-palco. Aquele exercício que testava a concentração dos integrantes me deixou ainda mais insegura, quando eu percebi que não estava dentro do grupo, mas sobrevoando outros espaços, sem conseguir responder ao trabalho e a cada olhar que se dirigia ao meu.
Subi ao palco e errei. Errei de novo. Errei diante do grupo, do público e de mim, desconfortável com um microfone que captava unicamente a minha voz e outro que captava meu tambor.
No fim, todos desceram do palco vibrando, com sorrisos radiantes no rosto. Foi um sucesso. Tudo saiu como planejamos. Menos eu.
Depois mudamos de ares, minha mente começou a flutuar de novo... E aí outro dia veio o Leo (Peifer) me perguntar o porquê da minha frustração, e me disse, dentre várias observações que só ele faz:
"Eu não acho absurdo que erremos. Acho humano. Absurdo é culpabilizar as pessoas pelos erros. (...) Errar pode chegar a ser simpático aos olhos do público, se não formos pretensiosos, porque eles – também imperfeitos – vêem sua humanidade refletida no erro. E deliram quando o artista, com elegância e propriedade, sobrepuja e humilha sua própria limitação, porque é a vida. Pois a vida não é exatamente assim?"
Sorri.
Depois de muita reflexão, de mudar minha visão e de perceber que é preciso modificar conceitos e atitudes, dedico esse texto a você, Leo. Obrigada pelo carinho.
http://rosadosventosbh.blogspot.com/2007/10/aflies.html?showComment=1192533840000#c6649339299861212155'> 16 outubro, 2007 09:24
Puxa, Larissa, obrigado pela dedicatória. Meu dia amanheceu pleno. Que feliz tê-la auxiliado a mudar sua visão de si mesma. Existe uma boa parte de sensações que faz com que todos nós permaneçamos juntos neste grupo. Arrisco dizer que não é a música seu principal pilar: são as pessoas. O brilho que temos e os demais indescobertos. Presenciar as pessoas se transcenderem é a maior comunhão de que somos capazes. Ave, Rosa!
http://rosadosventosbh.blogspot.com/2007/10/aflies.html?showComment=1192535100000#c119016369248673521'> 16 outubro, 2007 09:45
Eu sei, estou enchendo o saco, mas não posso terminar isto aqui sem lembrar que quem me fez enxergar os deslizes e fracassos de outra forma foi a Titane. Parte do que me disse está no post "Ana Íris ao pé do ouvido". Na ocasião, aconselhou, em caso de imprevistos, manter o domínio. Se assim o fizesse, as pessoas lembrar-se-iam mais do timbre, menos do erro.
Titane sabe ser generosa. E o que eu disse a você foi semeado por ela meses antes. Afina, não é sempre recompensador um círculo virtuoso?