eu choro.
sempre fui assim. não estava estressado nem tinha medo, não me interessava falhar ou ter sucesso. disse ao ronan, não estava ali competindo.
em roda, alguns minutos antes de subir ao palco, fazíamos aquecimento vocal. fabiana, que dirigia o aquecimento, pedia que algumas pessoas testassem a concentração de todo o grupo. o exercício consistia em falar com elas, brincar, empurrar. qualquer coisa que dificultasse a concentração. "jardel, conta um estória", me pediu. de improviso comecei a contar uma das inúmeras do meu repertório - quase chegam a três - : o coração denunciador, de edgard allan poe.
a atmosfera do conto é pesada. junte-se a isso o ar quente e seco de uberlândia, que nas noites sem vento é vivo, um interlocutor para os pensamentos noturnos; a minha vida fora de eixo, o sono atrasado e um vazio ruidoso como uma multidão de vazios.
uma vez a titane nos disse: "quando estou cansada, eu choro." me explique, titane, o que é que acontece com a gente nesses dias. é preciso que as pessoas entendam que eu sou músico, e não ator, mas é preciso que o rosa dos ventos entenda que estou disposto a dar o que quer que ele queira de mim. é preciso que alguém cuide da gente.
é preciso que alguém cuide da gente.
jardel rodrim
http://rosadosventosbh.blogspot.com/2007/10/eu-choro.html?showComment=1192121160000#c1993687218810392327'> 11 outubro, 2007 13:46
Arrepiei-me.
Aquelas lágrimas foram quase que nas minhas mãos. Sentia a vontade de fazer o mesmo que vc.
Um beijo
http://rosadosventosbh.blogspot.com/2007/10/eu-choro.html?showComment=1192534440000#c1099098636522543974'> 16 outubro, 2007 09:34
Acho muito rico como os mesmos momentos são percebidos tão diferentes pelas pessoas. Soube da Larissa, sei do Jardel e conheço o meu. Estávamos tão diferentes mesmo estando no mesmo lugar e participando das mesmas coisas. De longe, no banquinho da febre, vi a cena. Pouco pude participar, tive que me chamar à razão, àquela altura quase esmaecida. Antigamente eu absorvia os sentimentos em derredor. Hoje sei respeitá-los, sem tomá-los como meus. Não sabia a motivação do choro, percebia as tensões, as ansiedades, tudo fundido no repentino caldeirão da minha cabeça. Entornei o que dava do recipiente no palco. Acho que muita gente também o fez. Menos a Larissa, talvez. Mas essa é outra bela percepção paralela do mesmo momento. Ah! A beleza vária do mesmo momento...