porque sou artista

"não existe tempo. só a passagem do tempo."

passei minha adolescência, vejam vocês, abraçado ao meu fiel amigo, o violão. não tinha dinheiro pra comprar roupas caras, não era nada bonitinho, não transava com as meninas. já diz o millôr fernandes: "comida é bom, bebida é ótimo, música é admirável, literatura é sublime, mas só o sexo provoca ereção."

na faculdade, meus colegas me consideram muito passional. há alguns minutos tive uma discussão com uma amiga sobre como acho que tudo aquilo que se faz por opção nessa vida, de uma forma ou de outra tem como ponto de partida uma paixão. ao que ela contra-argumentou que não, que isso significa humanizar o mundo à nossa volta. ora, se não posso humanizar o mundo, o que diabos vou fazer com ele? devo, portanto, me tornar um ser humano melhor (ou ao menos passável), porque humanizar o mundo, além de uma certa arrogância de minha parte, é também uma enorme responsabilidade. millôr fernandes: "se os animais falassem, não seria conosco que iriam bater papo".

pior, humanizar é inevitável.

bem, primeiramente, sou artista porque preciso justificar para mim mesmo o fato de ser artista. enquanto houver essa necessidade não deixarei de sê-lo. em segundo lugar, sou artista porque não posso evitar. acreditem, já tentei. inclusive, já tentei outras formas de arte também. a primeira da minha vida foi o desenho, depois a literatura, hoje em dia me aventuro no teatro, mas a música... bem, no fundo é a música.

no fundo é a música. você vê? abri outro parágrafo pra falar da música. isso porque apenas mencionar essa palavra já me jogou de encontro à vontade irresistível de justificá-la para mim mesmo. e assim vou. essa necessidade não é de todo benéfica, mas é uma necessidade, ora bolas. quem vai me condenar?

"os pássaros voam porque não têm ideologia".

está aí, peifer, a conclusão (aos trancos e barrancos) do texto que comecei a tanto tempo. acontece que hoje eu queria falar do millôr também. incluo ele aqui, como uma espécie de i ching. mas só quanto ao aspeto simbólico, porque se o assunto é futuro, prefiro os dados às cartas.