Cabeça vazia, o som do oco ecoa e a realidade martela. A página desafia e a manhã é a guilhotina. Procuro no meu saco de mantimentos e... nada. A dor craveja o interno do crânio, ascende o vermelho dos olhos, ata o nó na garganta. Janela = tela em branco com a rubrica “mundo” no canto inferior direito. Lá em baixo, alguém vende mercadorias invisíveis. Aqui há alguém que sabe mostrar que a porta pode também ser aberta com violência e fechada com superior bestialidade. Alguém que prova que os gritos de histeria são criaturas capazes de dominar o cérebro e fatiá-lo com lâminas finas. Meu olho olha pro líquido cor de olho castanho claro na garrafa. Alguns leram “inspiração”. Eu li cor. Os ouvidos lêem música, o coração lê espuma e objetos cortam o ar e o choque os corta em pó. Corpo = fatias do que pode vir a ser humano. Fatia alguma move as teclas. Nada preenche o prato branco. Alguém que constata a sonoridade do corpo quando percutido com a palma da mão – idéias que surgiam tímidas, se apagam. Alguém que elenca os variados modos e ângulos com que a agulha entra sob as unhas. Alguém que de me garimpar sorrisos já extraiu lágrimas. Alguém que do topo da minha insônia retira as malas para preenchê-las de escombros. Casa = lugar de sair. Espalha-se somente no corpo a sensação de embaralhamento das idéias. O que foi um, virou nuvem. Nada sai dessas trevas. Mas ameaça sair de rosto borrado, dizendo manchetes irresponsáveis. Sai, mas lágrima e soluço. Não diz, murmura que fica. A vertigem escala o corpo, quase caio em mim, mas me ergo – sou capaz, também, de andar – e desenho com a minha máquina o desfecho dos sons. Cabeça = jardim de idéias. Brota uma rosa na fronte.