Devo a Gilmar Mendes as benesses de minha humildade, gratidão e perdão. Àquele mesmo, deus do Supremo Tribunal Federal. Nessa divinatória instância última da república dos flagelos, Mendes e seus correlatos definiram algo sobre minha personalidade que eu terminantemente ignorava: por 10 votos a 1, nossas compassivas divindades supremas conjeturaram que eu sou um excêntrico.
Com o que concordo. Sim, porque quem, por ajuizado que fosse, submeter-se-ia a quatro lancinantes anos para aprender e aplicar conceitos, técnicas e pressupostos de uma profissão, se ela deixa de exisitir? Somente os excêntricos, claro. Então aos senhores do meu destino dedico este humilíssimo texto de redenção e purificação. Porque hoje tive a soberba revelação de que para exercer este meu labor de contador de histórias não é preciso diplomação, a exemplo de que para o ofício de ser justo e reto não é preciso decência.
Nesses quatro anos, ó magníficos, quando contava apenas 20 anos, eu era mesmo muito rebelde, tinha muito tempo livre. Nessa minha época, trilhava caminhos tortuosos e a oficina do diabo produzia em escala e fazia delivery. Então, para evitar o submundo das ilegalidades, fui tentado pelo sistema a desenvolver atributos de uma profissão imaginária. Sintomas de uma adolescência mal finalizada, precedida de uma infância mal resolvida. Tudo isso eu reconheço, ó supremos senhores de meus desígnios.
Sei que errei, muito e mesmo. Desperdicei esses anos e dinheiros de minha vida, por reles estupidez e picardia juvenil! Sede, no entanto, compassivos com esta alma, não permitais que eu cozinhe nos sulfurosos temperos do purgatório!
Em prova de meu desapego e arrependimento, em vossas mãos entrego, ó excelsos, esta cilíndrica relíquia, prova irrefutável de meu materialismo e fraqueza, que fora o objeto incontestável de meu pecado. Cedo-lhes para que o mantenham para si, no receptáculo em que melhor lhes couber.
*Leo Peifer é artista e é - ou era, sei lá - jornalista
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