Reprodução do vídeo "Teste de Honestidade", disponível na Globo.com

As pessoas pretensamente boas devem estar às raias do desespero. Ao menos é o que dão a perceber algumas, igualmente pretensas, reportagens intituladas "Teste de Honestidade", exibidas pelo Fantástico (Rede Globo) e Domingo Espetacular (Rede Record).

Uma "evolução" das pegadinhas de Ivo Holanda ou do extinto teste de fidelidade do João Kléber, se é que tinham alguma, perderam de vez a graça: em vez de expor ao ridículo, fazem a ronda do caráter.

Não imagino quem seja o gênio jornalístico (?) que se fatigou de demonstrar a falta de caráter e honradez dos mais altos panteões de nossa pátria e resolveu que a culpa mesmo é do brasileiro médio, aquele que não devolve o laptop que um ator esquece propositadamente; ou que quase atropela, à velocidade de sua indiferença e pressa, uma artista que chora copiosa e convicentemente esparramada na sarjeta; ou ainda o que carrega para si pacotes de compra meticulosamente esquecidos por uma desavisada intérprete próximo a um orelhão, para logo depois ser abordado por um falso repórter e ser desmentido, em rede nacional, ao discorrer, fagueiro, sobre a importância das compras no período de feriado.

Talvez esse jornalista - ou essa classe de seres superiores, não sei, porquanto esteja um tanto disforme e oculta - viva em um Éden particular de Mestria do caráter e permaneça rodeado por virgens reclusas de pecado e, sobretudo, seja o Emissário de que fala o Livro Sagrado para moralizar e debelar esta sociedade falida de valores. Se assim for, amém.

Entretanto, e somente por um exercício herético característico desta pessoa, caso ele tenha em sua composição tanto barro quanto o alocado em mim e você, que legitimidade carrega para esse tipo de inquisição? A partir de qual Corte Suprema lhe a foi expedida?

Claro esteja que não acoberto e nem aquiesço aos pequenos delitos referidos - e pode até ser que eu minta ao emitir essa opinião categórica, pois que atrelada às circustâncias - mas é que minha mente involuída tem sérias dificuldades em delegar a um jornalista, especialmente com ares de entretainer, a promotoria do caráter dos outros.